22/01/06

LEITURAS - FRAGMENTOS - 1



[...]As crianças não entendem a idade, para elas quarenta anos ou oitenta é a mesma desgraça. Uma vez ouvi nas escadas a Maria a perguntar à avó dela se era velha. Ela disse que não, e a Maria perguntou se o avô era velho e a avó respondeu que não. Então a Maria perguntou: «Mas os velhos não existem?», e levou uma estalada. Eu entendo os anos das pessoas, mas os de Rafaniello, não. Pela cara tem cem anos, pelas mãos quarenta, pelos cabelos vinte, todos ruivos e emaranhados. Pelas palavras não sei, fala pouco numa voz fina. Canta numa língua estrangeira, quando varro o canto dele faz-me um sorriso e as rugas e as sardas mexem-se, parece o mar quando lhe chove em cima. [...]


Erri De Luca, in Montedidio

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