27/05/06

LEITURAS - 7



[A flor azul]

Ébrio de êxtase, embora consciente das mais ínfimas sensações, deixou-se arrastar pelo fluxo luminoso que, do tanque, se ia perder entre rochedos. Caiu numa espécie de doce sonolência, sonhou com indescritíveis aventuras, das quais foi despertado por uma nova visão. Encontrava-se deitado sobre a relva fofa, à beira de uma fonte que parecia, ao brotar, desvanecer-se nas alturas. A poucos passos, erguiam-se uns rochedos de um azul escuro raiado de veios multicores; a luz que o banhava era mais suave e límpida do que habitualmente, o céu, de um negro azulado perfeitamente puro. Porém, o que o atraiu e fascinou irresistivelmente, foi uma flor alta, de um azul etéreo que, debruçando-se à beira da fonte, o roçava com as suas largas pétalas luminosas. À sua volta, um cem número de flores ostentava os seus variados tons, e um perfume dos mais deliciosos enchia de fragrâncias o ar. Ele, todavia, só tinha olhos para a Flor Azul, e longo tempo ficou a contemplá-la tomado de uma indescritível ternura. Quando ia a aproximar-se, a flor começou, de repente, a mover-se e a transformar-se: as folhas, cada vez mais brilhantes, estenderam-se ao longo do caule, que se alongava, e a Flor inclinou-se para ele, desenhando as suas pétalas uma gola azul à roda de um rosto terno e flutuante[.......]

Novalis - Heinrich D' Ofterdingen - A Espera

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons