12/05/07

LEITURAS - 41



[...] Leves e de um azul metálico, movidas por uma brisa contrária suave, quase imperceptível, as ondas do Mar Adriático rolavam ao encontro da armada imperial, quando esta, tendo à esquerda as colinas rasas e cada vez mais próximas da costa calabresa, se dirigia para o porto de Brindisi e então, quando a solidão do mar cheia de sol, mas mesmo assim tão prenunciadora de morte, deu lugar à pacífica alegria da actividade humana, quando as águas, suavemente brilhantes com a proximidade da existência de homens e das suas casas, se povoavam de variadíssimos barcos, uns que também se dirigiam para o porto, outros que dali saíam, então, quando os barcos de pescadores com as suas velas castanhas estavam precisamente a sair dos pequenos molhes de todas as inúmeras aldeias e povoações ao longo da orla salpicada de branco, para se dirigirem à sua pesca nocturna, então a água ficou quase tão lisa como um espelho; como uma madrepérola, abrira-se por cima a concha do céu, anoitecia, e sentia-se o cheiro a lenha das lareiras, sempre que o vento trazia os sons da vida, uma martelada ou um grito, desde a costa até ao mar. [...]

Hermann Broch,A morte de Virgílio

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