31/01/08

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 48


rosapoesia-maria costa

A rosa

Quem se arrima à rosa
não tem sombra

Eu busquei a beleza

e o sol me queima.

Pablo Antônio Cuadra

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30/01/08

POETAS MEUS AMIGOS - 72





Cerejeira em flor

Voltei ontem
à terra e havia eucaliptos no lugar
dos pinheiros onde costumávamos
pendurar os baloiços.

Atravessei em ponto morto
a estrada principal, as casas velhas
mais velhas e as vivendas novas com crianças
desconhecidas à porta.
Dois miúdos brincavam perto da escola, agora
cercada por um gradeamento em ferro,
e um espasmo medular revelou-me de novo
a indistinta proximidade entre a inocência
e as prisões do homem.

Havia também
cerejeiras e pessegueiros em flor no quintal
da casa que fora já da nossa família.
Estudei as pessoas que lá vivem
e prometi reavê-la um dia.

Lembrei-me dos ciclos da natureza.
Quando chovia como ontem, no princípio da Primavera,
o quintal ficava repleto de laranjas e depois um verde molhado
escorria pelas encostas até bem perto de nós e um sopro
de juventude alastrava-se pela superfície da terra.

Hoje entrei no carro de manhã cedo
para voltar à cidade onde fervilham
as minhas fantasias de adulto, atravessei em ponto
morto a estrada principal, olhei as casas e as crianças,
e quando contornei a derradeira curva reparei
que levava no lugar do meu corpo
uma cerejeira em flor.

Paulo Tavares in «Pêndulo»
- ed.Quasi,2007


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29/01/08

O PRAZER DE LER - 75


Árvore de livros – por Frank Visser

Leitura


«a leitura é uma operação descontínua e fragmentária. Ou melhor: o objecto da leitura é uma matéria puntiforme e poeirenta. Na inundante vastidão da escrita, a atenção do leitor distingue segmentos mínimos, aproximações de palavras, metáforas, nexos sintácticos, passagens lógicas, particularidades lexicais que revelam de uma densidade de significados extremamente concentrada. São como as partículas elementares que formam o núcleo da obra, à roda da qual roda tudo o resto. Ou como o fundo de um vórtice que aspira e engole as correntes. É através destas espirais que, em relâmpagos que mal se percebem, se manifesta a verdade que o livro pode trazer consigo, a sua substância última. Mitos e mistérios consistem em grãozinhos impalpáveis como o polén que fica nas patas das borboletas; só quem compreendeu isto pode esperar revelações e iluminações.»
Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante

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28/01/08

DE AMICITIA - 68




Ciertos días




Ciertos días precisas de un amigo,
de su franca luz sobre la mesa
para cortar el pan, la soledad,
la indecisa brújula
que brinda una mañana de sábado.

Uno sabe lo de siempre,
cómo abrir
la puerta hacia un libro,
el olor rotundo de una página en blanco,
los deberes cotidianos,
esa ventana que da al este de los sueños.
Hace varias derrotas aprendió
a morder las palabras frente al espejo;
incluso, sabe cómo hacer
un ajedrez de fotos sobre la cama
cada vez que añora sus veinte años.

Pero ciertos días te palpas la voz,
vuelves a la eterna pregunta.
Entonces resquicias los armarios

olvidados en el desván de los días,
buscas toda el ansia, la cal rutinaria
que cubre algún sitial de luz.
Entonces echas de menos a la novia,
a tu primer asombro,
de nuevo eres
aquel muchacho de mirada triste,
el rebelde de profesión, aquel que golpea
las puertas del barrio, o del Estado,
a ver si le abre su identidad,
que sale a la calle en busca de la taberna de su ser,
un rincón de la vida nuestro,
o heraldos que anuncien
la caída de todas las fronteras,
el camino a la hermandad del hombre .

Y no es solo que un día
como la llegada de la lluvia
o de un amigo que no se anuncia
al fin sepas quién eres y no eres.
Es más bien convencerte
sin espejos, ni ojos, ni señales de humo,
quién serás una tarde de otoño
cuando ya no precises de un amigo,
ni siquiera -y esto es lo peor-,
de su franca luz sobre la mesa
para cortar el pan, la soledad,
la indecisa brújula
que brinda una mañana de sábado.

Pepe Sanchez

Encontrado em http://isla_negra.zoomblog.com/

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27/01/08

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE" - 22





A João Vasco
(Numa ceia da noite de despedida
para uma longa separação)


A boémia não morreu.
Eis‑nos com cabelos brancos:
E, todavia, os barrancos
Do seu destino, e do meu,

Se nos quebraram as pernas,
As asas não as partiram.
Em que altos sonhos deliram
As nossas almas eternas.

Depois de tantos baldões.
Devera ter‑se ido a fé:
Temos tido pontapé
Das mais caras ilusões...

E não morre a mocidade!
Após enganos. enganos...
pois só daqui a cem anos
Choraremos de saudade?


Camilo Pessanha, Clepsydra

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25/01/08

LEITURAS - 64


[a montanha mágica]

Foi por amor dela, e a despeito de Settembrini, que me sujeitei ao princípio oposto à razão, ao princípio genial da doença, ao qual, talvez tenha estado sujeito desde sempre, e fiquei aqui já não sei exactamente desde quando. Porque tudo esqueci e desliguei-me de tudo, dos meus parentes e da minha profissão, na planície, e de todas as minhas esperanças. E quando Claudia partiu, esperei-a, esperei-a sempre, aqui em cima, de modo que estou definitivamente perdido para a planície, que me considera morto."

Thomas Mann in "A Montanha Mágica"

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24/01/08

DO FALAR POESIA - 76



quando os poemas se aproximam…


quando os poemas se aproximam dos mil tu
dás-te conta que criaste muito
pouco.
resume-se à chuva, ao sol,
ao trânsito, às noites e aos dias dos
anos, aos rostos.
deixar isto para trás será mais fácil do que
vivê-lo, enquanto escreves mais uma linha
e um homem toca piano na rádio,
os melhores escritores escreveram muito
pouco
e os piores,
demasiado.

Charles Bukowski

- versão de manuel a. domingos

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23/01/08

PENSAR - 73



" A única alegria neste mundo é a de começar.
É belo viver, porque viver é começar, sempre, a cada instante.
Quando esta sensação desaparece - prisão, doença, hábito, estupidez - deseja-se morrer. "

Cesare Pavese in O Ofício de Viver

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22/01/08

NOCTURNOS - 45



Horas mortas


O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!



Cesário Verde
O Sentimento de um ocidental -4ªparte

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21/01/08

DA EDUCAÇÃO - 34



Mas, se eu não podia atrair os alunos a uma reali­dade «sociológica», podia falar-lhes do mistério obscuro da vida. Aliás, julgo-o hoje, bom reitor, o que tu me proibias não era bem que os alunos sentissem a pessoa flagrante do moço de fretes, do operário; era que eles criassem outro ser, à margem da lei dos homens e talvez dos deuses. O que tu me proibias era que eles formassem com as suas mãos mortais uma pessoa nova, um outro Adão fora da Bíblia. Mas havia tanta coisa de que falar! De uma vez calhou lermos a Sobolos rios que vão. Con­tava-se aí da Babilónia e da Jerusalém celeste..E Camões meu reitor de não sei quando, só queria dizer que a pátria celeste era uma aspiração do seu sonho de miséria do seu sonho de condenado. Mas eu sabia, eu, que não tenho um Deus que me justifique e redima, eu, que luto há tanto tempo por reconduzir à dimensão humana tudo quanto traz ainda um rasto divino, eu, que desejo reabsorver isso na minha condição mortal e efémera de um pobre arranjo de água e barro, eu, que nada ,recuso à minha emoção e ao meu alarme de tudo quanto me alarma ou me comove, eu, que sou materialista mas não só de um materialismo que se mede a metro e pesa na balança, eu, que sonho com o reinado integral do homem na terra da sua condenação e grandeza, assu­mindo tudo quanto se anuncia em mistério e exaltação, eu sabia que a memória de Camões, para além dos olhos e da carne, era a minha memória de origens, a minha memória absoluta. Somente no meu impulso para ultra­passar as nuvens, para vencer o espaço da minha vida, eu achava o céu vazio. Mas a memória era minha, eu o sabia, eu o sabia destes avisos surdos que me abalam nas raízes do meu ser, deste alarme de nada quando certas horas me visitam, quando a tua música me lem­bra, Cristina. Chopin. Nocturno nº 20. Cristina...

Vergílio Ferreira, Aparição

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20/01/08

POETAS MEUS AMIGOS - 71



Quebra-cabeça

rasgado nas
paredes o teu
sorriso de outdoor

procuro nas
peças baralhadas
tua velha alegria



Sandra Baldessin - http://sandraregina.multiply.com/

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19/01/08

REVIVALISMOS -15

não são tão lindinhos?

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PÉROLAS - 125



“Aqueço-me com isto. Ao seu calor
O nosso sangue é um e amadurece
Boa-noite meu amor.
Boa-noite, que amanhece."

Pedro Tamen

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18/01/08

ANIVERSÁRIO

De repente dei-me conta de que o nosso barco «aniversariou» no dia 14 deste mês. Graças aos bons e fiéis barqueiros que têm ajudado na navegação, atingimos hoje 128.340 visitas, neste exacto momento em que escrevo, - contadas, apenas,a partir de 31 de janeiro de 2005.
Mesmo atrasadamente, quero agradecer as vossas visitas - as que sustentam o meu gosto de ser «semeadora de poetas».
Amélia

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LEITURAS - 63



[Perto do coração selvagem]

"Olhou-se ao espelho antes de sair, de olhos entrefechados observou o rosto bem feito, o nariz recto, os lábios redondos e carnudos. Mas afinal de nada tenho culpa, disse. Nem de ter nascido. E de repente não compreendeu como pudera acreditar em responsabilidade, sentir aquele peso constante, todas as horas. Ela era livre... Como tudo se simplificava às vezes..."

Clarice Lispector
in "Perto do Coração Selvagem"

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17/01/08

LER OS CLÁSSICOS - 79



Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza e sem brandura,
Urdidos pela mão da Desventura,
Pela baça Tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis desesperados,
No mudo esquecimento a sepultura;
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

Não vos inspire, ó versos, cobardia
Da sátira mordaz o furor louco,
Da maldizente voz a tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco.

Manuel Maria Barbosa du Bocage

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16/01/08

UMA ATITUDE SE IMPÕE: AFRONTAMENTO - 8



[escrito na prisão]

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.
Estávamos iguais
com duas diferenças:
Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.
Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.

José Craveirinha

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15/01/08

DE AMICITIA - 67



"A amizade é, acima de tudo, certeza - é isso que a distingue do amor."

Marguerite Yourcenar

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14/01/08

DO FALAR POESIA - 75



A poesia é uma ditadora

Foi uma visita da deusa, a beleza
irmã da poesia - que veio
dizer que a poesia nos andava a estragar.
A poesia escutou-a, talvez, mas nós nada ouvimos
e a poesia nada nos disse. E nós
só fizemos o que a poesia nos disse para fazer.


Ted Hughes, Cartas de Aniversário
ed.Relógio d'Água, Lisboa,2000

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13/01/08

RETRATOS DE UM PAÍS QUE JÁ NÃO HÁ -25

não consegui melhor imagem...

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OMNIA VINCIT AMOR -92


Ernesto Sampaio

Deitados lado a lado, envoltos nas fadigas do dia.
Paisagem fresca e calma onde passam histórias irrealizáveis,
o sono repousava sobre nós.
Nenhuma espada precisava de nos separar.
Um peso delicioso, pesando na minha perna,
despertou-me.
Reconheci o teu pé.
Soube então, por um homem e uma mulher que se conhecem,
o que era estar deitado lado a lado.

Ernesto Sampaio* - in Fernanda
*suicidou-se pouco tempo após a morte de Fernanda Alves, sua mulher, a quem dedicou este seu livro

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12/01/08

EDUCAÇÃO -39



APELO PARA UMA DISCUSSÃO PÚBLICA ALARGADA DO MODELO DE GESTÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS
Petição:

Está em período de debate público apenas por um mês o Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário.Não apenas como profissionais da Educação, independentemente de qualquer filiação organizacional, mas também como cidadãos e encarregados de educação atentos, queremos manifestar o nosso desejo de um debate digno e alargado sobre um assunto tão importante como este que não pode ficar circunscrito a gabinetes ou a algumas reuniões longe do escrutínio público de todos os interessados. Fazemos este apelo porque temos consciência de que estas mudanças terão repercussões profundas na qualidade do ensino ministrado nos estabelecimentos do ensino público e que nem todas essas repercussões se encontram devidamente avaliadas neste momento. Para além disso, este projecto de alteração do regime jurídico ainda em vigor não se apresenta como resultante de uma necessidade pública, claramente sentida e demonstrada na e pela sociedade civil e comunidades educativas, de reformar o modelo em vigor. Pelo contrário, surge na sequência de uma profusão legislativa que se tem norteado por alguma incoerência entre as intenções manifestadas e as condições concretas existentes no nosso sistema educativo, o que desde logo nos suscita as maiores reservas quanto à sua validade.Não esqueçamos que:
• No sistema educativo português os alunos têm sido alvo de reformas sobrepostas, mal preparadas e pior implementadas.
• Tais reformas sucedem-se sem serem devidamente avaliados os resultados das reformas anteriores,
• A não avaliação aprofundada de todas as medidas e do seu efeito no sistema leva a que os actores institucionais e a cidadania se interroguem sobre as razões destes sucessivos fracassos.
• Apesar de todas essas reformas, os índices de literacia (global ou funcional) continuam dos mais baixos, enquanto que as taxas de insucesso e de abandono escolar são das mais altas, não apenas em termos europeus, como até mundiais.
• Com um novo modelo de gestão, insuficientemente fundamentado e imposto em nome de uma desejável autonomia e abertura da gestão dos estabelecimentos de ensino às comunidades, corre-se o risco de um agudizar das disfunções que o sistema vem demonstrando, com consequências imprevisíveis não só em termos pedagógicos como da coerência, integridade e solidariedade do sistema público de ensino.Perante este panorama, que aconselha a maior prudência em novas alterações na arquitectura do sistema público de ensino e perante as incoerências internas do projecto do Ministério da Educação em termos operacionais e a sua aparente inadequação quanto ao quadro legislativo em que se insere, nomeadamente quanto à Lei de Bases do Sistema Educativo, os signatários deste manifesto, reivindicam, por isso, ao Governo e ao Ministério da Educação que:
a) Exista um prazo suplementar de dois meses para discussão da proposta governativa;
b) Se promovam debates públicos em todas as escolas do país, mobilizando as comunidades educativas para a discussão das qualidades e óbices do novo modelo proposto;
c) Se faça a divulgação de todas as análises dos dados estatísticos e outros estudos de departamentos do Ministério da Educação, com especial relevo para a Inspecção Escolar relativos ao desempenho das Escolas em matéria de gestão que justificam a necessidade de mudança do modelo existente.
Apelamos ainda a que todos os intervenientes das comunidades educativas (alunos, encarregados de educação, docentes, funcionários não docentes, autarquias) se mobilizem para uma discussão alargada da Escola Pública. Só com o activo envolvimento de todos na preparação de reformas com esta dimensão e impacto numa área crítica como a Educação é possível garantir que a mudança se transformará em algo positivo e não meramente instrumental.Os órgãos de gestão das escolas e os Centros de Formação estarão, naturalmente, vocacionados para organizar e dinamizar este debate.
Os autores deste manifesto reiteram que não representam quaisquer organizações socio-profissionais de professores ou profissionais de educação actualmente existentes ou em processo de formação, sejam elas de natureza sindical, profissional, científico-profissional ou outra.
Desejam afirmar, porém, que as organizações acima referidas são organizações da sociedade civil com legitimidade própria para se pronunciarem sobre as questões respeitantes ao sistema de ensino e à governação das escolas;
Deste modo, num contexto em que o poder político afirma a necessidade de envolver a sociedade civil na governação das escolas, a eventual limitação da intervenção no debate destas organizações e/ou movimentos independentes constituídos especificamente para este efeito, comprometerá gravemente a legitimidade dessa governação e das políticas que a determinam, gerando inevitavelmente fenómenos de inércia na sua aplicação, em grande parte resultantes da forma como a informação e o debate (não) se realizaram

Caso esteja de acordo, assine a petição em

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DESASSOSSEGOS - 67



Não choro mais


"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora."

Caio Fernando Abreu

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11/01/08

POETAS MEUS AMIGOS - 70



mulher se inclina a cada manhã
sua face reveza com o sol

orfãos de terra
são seus olhos

nela não há lugar


Maria Costa - http://aluzdovoo.blogspot.com

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10/01/08

PÉROLAS - 124



A última porta

É isso mesmo! A vegetação senta-se à porta e dá um sentido às nossas memórias.

Ana Assunção
in http://anaassuncao.multiply.com/

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09/01/08

ESCREVER - 61




"Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas.
Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor,esse gosto esquisito.
Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.
- Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.O Padre falou ainda: - Manoel, isso não é doença,pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas...E se riu.
- Você não é de bugre? - ele continuou.Que sim, eu respondi.
Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas .
- Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros.
Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de gramática."

Manoel de Barros

_________________________
bugre: índio;tem geralmente conotação pejorativa;existe também Bugre, uma localidade do estado de Minas Gerais; mas Quintana não é poeta mineiro.Veja mais sobre bugre e Bugre naquele que chamo Dr.Google.
ariticum: fruto da família das anonas.

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08/01/08

PÉROLAS - 123



«A minha pátria é entre o Dia e o Sonho»

Rainer Maria Rilke

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07/01/08

LEITURAS - 62




A morte parecia ser o único fim razoável para semelhante carreira; mas a morte é apenas um salto para a região do estranho desconhecido; não passa da entrada do imenso remoto, do fantástico, do aquático, do sem alicerces. Assim, para esses homens que suspiram pela morte, mas a não desejam e não podem suicidar-se, o oceano, o participante inúmero e o acolhedor eterno, exibe com sedução os sedutores e inconcebíveis terrores da sua planura; do coração dos Pacíficos infinitos, milhares de sereias lhe cantam: «Vem para cá, coração despedaçado; aqui vivemos uma morte intermédia; aqui podemos ter, sem morrer, maravilhas sobrenaturais. Vem para cá! aniquila-te numa vida odiada pelo seu mundo terreno e que dela penso o mesmo; ofereço ainda mais esquecimento que a morte. Vem para cá! Levanta a tua própria lápide no cemitério, e vem para cá casar-te comigo!» Ouvindo estas vozes vindas do leste e do oeste, da alvorada ao crepúsculo, o espírito do ferreiro respondeu: «Pois bem; aqui me tens!» E foi assim que Perth foi pescar a baleia.
Herman Melville, Moby Dick

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06/01/08

COISAS MINHAS- FOTOS -2


Leiria - encosta do Castelo em fins de Dezembro

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DIA DE REIS - DIA DAS CRIANÇAS

Não posso colocar a música, mas fica o belo texto/poema (quem souber cantar, cante-o comigo):

Fils de ...

[Paroles et Musique: J. Brel/G. Jouannest 1967]

Fils de bourgeois
Ou fils d'apôtres
Tous les enfants
Sont comme les vôtres
Fils de César
Ou fils de rien
Tous les enfants
Sont comme le tien
Le même sourire
Les mêmes larmes
Les mêmes alarmes
Les mêmes soupirs
Fils de César
Ou fils de rien
Tous les enfants
Sont comme le tien
Ce n'est qu'après
Longtemps après
Mais fils de sultan
Fils de fakir
Tous les enfants
Ont un empire
Sous voutes d'or
Sous toits de chaumes
Tous les enfants
Ont un royaume
Un coin de vague
Une fleur qui tremble
Un oiseau mort
Qui leur ressemble
Fils de sultan
Fils de fakir
Tous les enfants
Ont un empire
Ce n'est qu'après
Longtemps après
Mais fils de bon fils
Ou fils d'étranger
Tous les enfants
Sont des sorciers
Fils de l'amour
Fils d'amourettes
Tous les enfants
Sont des poètes
Ils sont bergers
Ils sont rois mages
Font des nuages
Pour mieux voler
Mais fils de bon fils
Ou fils d'étranger
Tous les enfants
Sont des sorciers
Ce n'est qu'après
Longtemps après
Mais fils de bourgeois
Ou fils d'apôtres
Tous les enfants
Sont comme les vôtres
Fils de César
Ou fils de rien
Tous les enfants
Sont comme le tien
Le même sourire
Les mêmes larmes
Les mêmes alarmes
Les mêmes soupirs
Fils de César
Ou fils de rien
Tous les enfants
Sont comme le tien

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05/01/08

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 47



La Rosa no Buscaba la Aurora

La rosa
o buscaba la aurora:

Casi eterna en su ramo,
Buscaba otra cosa.

La rosa
No buscaba ni ciencia ni sombra:

Confín de carne y sueño,
Buscaba otra cosa.

La rosa
No buscaba la rosa.

Inmóvil por el cielo
Buscaba otra cosa.


Federico Garcia Lorca

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04/01/08

PENSAR - 72



........
Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo, pensa sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo.Somos incapazes de revolta e de agitação. Quando fizemos uma "revolução" foi para implantar uma coisa igual ao que já estava. Manchámos essa revolução com a brandura com que tratámos os vencidos. E não nos resultou uma guerra civil, que nos despertasse; não nos resultou uma anarquia, uma perturbação das consciências. Ficámos miseravelmente os mesmos disciplinados que éramos.Trabalhemos ao menos - nós, os novos - por perturbar as almas, por desorientar os espíritos. Cultivemos, em nós próprios, a desintegração mental como uma flor de preço. Construamos uma anarquia portuguesa.

......

Fernando Pessoa, O Jornal, 8-4-1915
"O Banqueiro Anarquista", ed.Antígona.

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03/01/08

«ENSINOU A SENTIR VELADAMENTE" - 21




Olvido


Desce por fim sobre o meu coração
O olvido. Irrevocável. Absoluto.
Envolve-o grave como véu de luto.
Podes, corpo, ir dormir no teu caixão.


A fronte já sem rugas, distendidas
As feições, na imortal serenidade,
Dorme enfim sem desejo e sem saudade
Das coisas não logradas ou perdidas.

O barro que em quimera modelaste
Quebrou-se-te nas mãos. Viça uma flor...
Pões-lhe o dedo, ei-la murcha sobre a haste...

Ias andar, sempre fugia o chão,
Até que desvairavas, do terror
Corria-te um suor, de inquietação…


Camilo Pessanha, Clepsydra

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01/01/08

POETAS MEUS AMIGOS - 69



Abandono
Quando me abandonei em ti
eras pensamento,
Paul Celan

Eras pensamento e abandonei-me e pensamento eu era
e fomos esvaindo nas palavras linhas de destino
horizontes peles ideias quando éramos
sopros de sangue labaredas e nem
uma só verdade desvendamos

era ainda mundo o mundo de névoas que nós fomos

Lilia Silvestre Chaves

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