10/02/08

LEITURAS - 66





Aos 15 anos


"Minha Nossa Senhora, rebentou dentro de mim essa coisa maravilhosa a que chamamos Vida. Aprendi a gostar dos rios e dos pássaros, das moças e dos trovões, rebolei-me em todo o chão do meu Alentejo, comi barro, abracei lama, cicatrizei-me de penhascos. E descobri que o amor nasce todos os dias nas folhas dos aloendros, nas espigas do centeio, debruado de sol e girassóis com montanhas de ternura pelo meio.
Oh, Meus belos companheiros de Melides: Barrinha sabido que já correra Marrocos e Mourarias, roubara carteiras a "camones" e beduínos mas de tudo se desprendia como a fonte se dá em água. E tu, maravilhoso António Rodrigues dos Santos, homem de 15 anos, chefe da casa, que mortos já eram teu pai, tua mãe e teu irmão? E tu, meu Chico Velhinho, bobo da corte, com um sorriso tão dramático e doloroso, que ainda hoje, quando penso em ti, me sinto culpado de todas as insensibilidades do mundo. E tu, meu caro Arménio, complexado filho-de-pai-incógnito, anátema que só uma virgem mas indestrutível solidariedade do nosso clã transformou num homem bom, aberto, camarada?
E tu, e tu e tu, ó tantos amigos, tanta moça amada, tantos velhos cavadores que me ensinaram, sobre poiais frescos das velhas casas, os ângulos da pedra filosofal...
Quinze anos. Quinze anos. Quinze anos. A vida toda despida à minha frente em arremessos de amor, chão, ternura e amizade:
- Foi aos quinze anos que descobri que um homem sozinho não vale nada."

Eduardo Olímpio - Ternura

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