24/09/08

O PRAZER DE LER - 87



[leitura]

«a leitura é uma operação descontínua e fragmentária. Ou melhor: o objecto da leitura é uma matéria puntiforme e poeirenta. Na inundante vastidão da escrita, a atenção do leitor distingue segmentos mínimos, aproximações de palavras, metáforas, nexos sintácticos, passagens lógicas, particularidades lexicais que relevam de uma densidade de significados extremamente concentrada. São como as partículas elementares que formam o núcleo da obra, à roda da qual roda tudo o resto. Ou como o fundo de um vórtice que aspira e engole as correntes. É através destas espirais que, em relâmpagos que mal se percebem, se manifesta a verdade que o livro pode trazer consigo, a sua substância última. Mitos e mistérios consistem em grãozinhos impalpáveis como o pólen que fica nas patas das borboletas; só quem compreendeu isto pode esperar revelações e iluminações.»

Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante

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