13/09/08

ESCREVER -72





Biblioteca, Vieira da Silva, óleo sobre tela, 1949.

Adolescente ainda, as palavras eram sons que me levavam de fulgor em fulgor, de febre em febre: escrevia como olhava o mar, imaginando cidades na margem invisível do horizonte. Escrevia pela ânsia de viver, pela luz em que julgava ir tornar-me. Há muito que essa luz se apagou e que não escrevo assim. Nem já para fingir viver. Foi longo o caminho de aprendizagem, e trago comigo as personagens que ficaram em mim e que fui encontrando nestes livros todos. Vivemos juntos e sonhamos juntos enquanto durmo. Sem elas eu não existia. O que escrevo, em sua maior parte, não me pertence. Pertence-lhes. E hoje escrevo para resistir, para que nenhuma delas morra senão quando eu morrer.

© nd .- nuno dempster

Etiquetas: ,

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons