07/12/09

OS MEUS POETAS - 127



Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada

[no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!


(7-5-1914)

Fernando Pessoa.Alberto Caeiro

"O Guardador de Rebanhos –XLIII

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