29/06/10

POETAS MEUS AMIGOS - 130



Solidão

o tilintar dos talheres assinala
que está posta a refeição

a toalha da mesa não revela os cerzidos
onde o tempo e o uso esgarçou as fibras

difusa
a luz solar
vence a cortina que esvoaça

em vestígios de uma canção
que aos comensais passa despercebida
andrógina voz canta as vicissitudes da solidão

a senhora tece comentários domésticos
aos quais o esposo assente cabeceando
olhos postos nos próprios pensamentos
ensimesmado num mundoem tudo diferente deste
onde autômato mastiga engole bebe e concorda
pela conveniência de não imiscuir-se no que considera irrelevante

a mulher fala do factual

alheio
o homem delira
e pede a sobremesa.

Fred Matos

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