18/10/10

NOCTURNOS - 89

estrelas

segundo soneto nocturno

Dizias: a poesia não nos protege
nem salva, é só um consolo inútil.
As folhas rasgadas ardiam melhor,
o fogo contorcia as estrofes, brilho

negro o destas cinzas. Dizias: foi
ontem que o anjo me veio arrancar
os olhos, amanhã virá à procura do
coração. Na tua voz, restos de vidro

moído, metal gasto, ferrugem. Lá
em cima as estrelas continuavam
a cintilar, indiferentes. Nenhuma

catástrofe que nos aconteça ficará
registada nos sismógrafos. Dizias:
afinal não há anjo, são só palavras.

José Mário Silva, Luz Indecisa

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