31/03/11

Alma Lusitana- de Fernando Girão


htpp://www.youtube.com/watch?v=MyZ9GpMDjXo

Apenas uma pequena e desencantada visão da «alma lusitana»

Etiquetas: ,

30/03/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 94

flores- rosas



Casida de la rosa


 La rosa
no buscava la aurora:
Casi eterna en su ramo
buscaba otra cosa.


La rosa
no buscava ni ciencia ni sombra:
confin de carne e sueño
buscaba otra cosa.


La rosa
no buscaba la rosa:
inmóvel por el cielo
!buscaba otra cosa.




Federico Garcia Lorca

Etiquetas:

OMNIA VINCIT AMOR - 160

Photobucket

A função do amor (excertos)


a função do amor é fabricar desconhecimento
(o conhecido não tem desejo; mas todo o amor é desejar)
(...)
que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham, criam e matam

enquanto o todo se move; e cada parte permanece quieta:

pode não ser sempre assim;(...)

e.e.cummings

O poema pode ser lido na íntegra em
Modus vivendi - http://amata.anaroque.com/

Etiquetas:

ARTE - 11

arte grega: friso do Partenon (s.V a.C)

Etiquetas:

29/03/11

POEMAS COM ROSAS DENTRO - 93


flores-rosa


aprende a falar

- diz a rosa: escreve de noite

e que o meu múltiplo sol

te guie inúmeros

os caminhos. põe-te numa sala

com a luz apagada

onde chegue acesa

a de uma outra, e

frágil,

ao papel que para ela

voltas. então, falas

das paixões, da pétala

que cai no interior

do coração

e navega na sombra do sangue,

de assombro em

assombro.

Manuel Gusmão

Etiquetas:

28/03/11

PENSAR - 123

autores

Depois que os ambiciosos de domínio se tornam donos e déspotas dos Estados, das coisas e dos traidores que a ele se venderam, oh, então! Então o déspota, conhecedor da vileza de seus agentes, retira-lhes a confiança, atirando-os fora como limões espremidos. Se já passou o tempo que ocorreram esses factos, o tempo de sabê-lo é sempre palpitante para os homens de responsabilidade"

Demóstenes,s.IV-a.C

Etiquetas: ,

27/03/11


outros





245 000 já deixaram sinal da sua passagem por este barco...

Etiquetas:

CAMONIANAS - 66

natureza

A formosura desta fresca serra,
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros
Das nuvens pelo ar a branda guerra.

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos ofrece ,
Me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias mor tristeza.

Luís de Camões -Rimas/Sonetos

Etiquetas:

26/03/11

O PRAZER DE LER - 122

... são para ser lidos e/ou oferecidos

Etiquetas:

25/03/11

DE AMICITIA - 106

24/03/11

PÉROLAS - 220

Photobucket

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
e mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar
Intransitivo.

Teadoro,Teodora

Manuel Bandeira

Etiquetas: ,

23/03/11

DESASSOSSEGOS - 115

autores


Cansaço

Todos os brancos sonos
Da minha calma
Caíram na fímbria escura do firmamento.

Ora a dúvida cobre minha alma
E meus sonhos são produtos do tormento.

Ah, queria dormir de anseios livre
Saber de um rio fundo, como o que em mim vive.

E fluir com suas águas...

Else Lasker-Schüler

Etiquetas:

22/03/11

ARTE - 10



Goya - cão -Museu do Prado, Madrid

Etiquetas:

21/03/11

NO TEMPO DA «FROL» / DIA MUNDIAL DA POESIA

«La primavera ha venido. Nadie sabe cómo ha sido.»
Antonio Machado

Etiquetas:

20/03/11

LER OS CLÁSSICOS - 138

BRIGHT STAR
img.do filme Bright Star - Estrela cintilante

Sem Ti
Sem ti, amiga, o tempo vai tão lento.
que um Dia me parece mais que um Ano!
Mas contigo a meu lado voa o tempo,
e um Ano é uma Hora ou até nem tanto…

Sem ti, amiga, Inverno carrancudo
se me afigura o mais risonho Estio.
Mas a teu lado o V’rão domina tudo,
mesmo o tempo em que os lobos têm frio…

Sem ti, o Meio-Dia é noite escura.
Contigo, à Meia-Noite o Sol fulgura.
E assim posso dizer-te, com certeza,
que reduzes ao nada a Natureza!

 Andrej Morsztyn (1613-1693)
tradução de David Mourão Ferreira, in Colóquio Letras nº 164.

Etiquetas: ,

19/03/11


Nova edição de Fernando Pessoa,
O Menino da sua Mãe

Etiquetas:

Saudades das bandas percorrendo as cidades

18/03/11

NOCTURNOS - 94

limelight -por eli

Depois do Sol...

Fez-se noite com tal mistério,
Tão sem rumor, tão devagar,
Que o crepúsculo é como um luar
Iluminando um cemitério . . .

Tudo imóvel . . . Serenidades . . .
Que tristeza, nos sonhos meus!
E quanto choro e quanto adeus
Neste mar de infelicidades!

Oh! Paisagens minhas de antanho . . .
Velhas, velhas . . . Nem vivem mais . . .
— As nuvens passam desiguais,
Com sonolência de rebanho . . .

Seres e coisas vão-se embora . . .
E, na auréola triste do luar,
Anda a lua, tão devagar,
Que parece Nossa Senhora

Pelos silêncios a sonhar . . .


Cecília Meireles

Etiquetas: ,

17/03/11

PÉROLAS - 219

lugares

Morte em Veneza

De muitas coisas se pode morrer
em Veneza
De velhice
de susto
de peste

ou de beleza

Jorge Sousa Braga, O poeta nu
em Poemas com cinema

Assírio e Alvim, Lisboa, 2010.

Etiquetas:

16/03/11

ARTE - 9


vincent van gogh - lírios

Etiquetas:

DA EDUCAÇÃO - 66

ensinar

Carta de Abraham Lincoln ao professor do seu filho

"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales.Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que uma derrota honrosa vale mais que uma vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando está triste e explique-lhe que, por vezes, os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão. Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens. Eu sei que estou a pedir muito, mas veja o que pode fazer, caro professor.
(carta escrita em1830)
Encontrada em http://terrear.blogspot.com

Etiquetas:

15/03/11

LEITURAS - 162

ler

“Precipitavam-se pela rua fora, topando tudo no modo peculiar que tinham de início e que, muito tempo depois, se tornou mais triste, perceptivo e inexpressivo. Mas nessa altura dançavam pelas ruas fora, quais fantoches febris, e eu trotava atrás deles, como toda a vida fiz no encalço das pessoas que me interessam, porque as únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas de viver, loucas por falar, loucas por serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, as que não bocejam nem dizem nenhum lugar-comum, mas ardem, ardem como fabulosas grinaldas amarelas de fogo-de-artifício a explodir, semelhantes a aranhas, através das estrelas e, no meio, vê-se um clarão azul a estourar e toda a gente exclama: «Aaaah!».”

Jack Kerouac, Pela Estrada Fora
Trad. Armanda Rodrigues e Margarida Vale de Gato

Etiquetas:

14/03/11

OMNIA VINCIT AMOR - 159

retratos;arte

[Amo as tuas mil imagens em voo]

Amo não só o hoje perfumado de teus olhos
mas a menina oculta que lá dentro
olha a vastidão do mundo com redondo
sobressalto, e amo o cinza estranho que me lembra
num cantinho de tempo que o inverno
ampara. A multidão de ti, a fuga das tuas horas,
amo as tuas mil imagens em voo
como um bando de pássaros selvagens.
não apenas o teu domingo breve de delícias
mas também uma sexta-feira trágica, quem
sabe, e um sábado de triunfos e de glórias
que eu não verei jamais, mas que elogio.
menina e moça e jovem já mulher,

todas tu, enchem o meu coração, e em paz as amo.
Eliseo Diego (Cuba)
(trad.'caseira' de Amélia Pais)
original encontrado em http://cortenaaldeia.blogspot.com/

Etiquetas:

13/03/11

O PRAZER DE LER - 121

escrever

Tipos de livros


Livros que leste.
Livros que não leste.
Livros que não podes deixar de ler.
Livros que podes deixar de ler.
Livros já lidos sem sequer ser preciso abri-los.
Livros que se tu tivesses mais vidas para viver certamente também os lerias.
Livros demasiado caros que esperas poder comprar em saldos.
Livros que podes pedir a alguém que tos empreste.
Livros que todos leram, portanto é quase como se tu os tivesses lido também.
Livros que há tanto tempo planeias ler.
Livros que queres possuir para os teres à mão em todas as circunstâncias.
Livros que poderias pôr de lado para leres talvez este Verão.
Livros que fariam muito jeito para equilibrar a perna do sofá.
Livros que te inspiram uma curiosidade repentina, frenética e não justificável.
Livros lidos há tanto tempo que seria hora de os releres.
Livros que fazes conta que leste e que seria hora de te decidires a lê-los.de facto.


Italo Calvino

Etiquetas:

12/03/11

Em dia de justos protestos

PENSAR - 123

Photobucket

Les âmes se pèsent dans le silence

Les âmes se pèsent dans le silence, comme l'or et l'argent se pèsent dans l'eau pure, et les paroles que nous prononçons n'ont de sens que grâce au silence où elles baignent.

Maurice Maeterlinck


As almas pesam-se no silêncio,como o ouro e a prata se pesam na água
pura,e as palavras que pronunciamos só têm sentido graças ao silêncio em que se banham.
encontrado em corte na aldeia - http://cortenaaldeia.blogspot.com/

Etiquetas:

11/03/11

ARTE - 8

arte
David Hockney - Splash

Etiquetas:

DESASSOSSEGOS - 114

Photobucket

"De repente a certeza..."

De repente a certeza
da extrema solidão.
Três amores (são quatro)
a vida e seus compassos
um canário e um cão.

Nada é meu, nunca foi.
O que sempre doeu
ainda dói.

Renata Pallottini
encontrado em http://adispersapalavra.blogspot.com

Etiquetas:

10/03/11

PÉROLAS - 218


amor

"A noite é uma multidão de mães iluminadas que se chama estrelas."

Erri de Luca

Etiquetas:

LER OS CLÁSSICOS -137

mitos
templo de Zeus em Olímpia

[nem justo é preferir a força física à boa sabedoria.]

Mas se alguém obtivesse a vitória, ou pela rapidez dos pés,
ou no pentatlo, lá onde está o recinto de Zeus
perto das correntes do Pisa em Olímpia,
ou na luta, ou mesmo no penoso embate do pugilato,
ou na rude disputa a que chamam pancrácio,
os cidadãos o veriam mais ilustre,
obteria nos jogos lugar de honra visível a todos,
receberia alimento vindo das reservas públicas
dado pela cidade e também dons que seriam seu tesouro.
Ainda que fosse com cavalos, tudo isso lhe caberia,
embora não fosse digno como eu, pois mais que a força física
de homens e de cavalos vale minha sabedoria.
Ora, muito sem razão é esse costume, nem justo
é preferir a força física à boa sabedoria.
Pois nem havendo entre o povo um bom pugilista,
nem havendo um bom no pentatlo, nem na luta
ou pela rapidez dos pés, que mais que a força física
merece honra entre as ações dos homens nos jogos,
não é por isso que a cidade viveria em maior ordem.
Pequeno motivo de gozo teria a cidade,
se alguém, competindo, vencesse às margens do Pisa,
pois isso não enche os celeiros da cidade.

Xenófanes (s.VI.a.C)

Etiquetas:

09/03/11

POETAS MEUS AMIGOS - 148

Photobucket

Crua


Toda noite foge: o fogo, o frio na espinha.
Toda noite escorre um líquido sem
dor, sem cheiro, sem molhar, sem qualquer
encharcar-se de razão e no entanto e precisamente
ali nas entrelinhas de onde se vislumbra. Toda
noite o buraco onde se metem se comprazem de
meter-se. O Grande Buraco, Grande Buraco, ninguém
sabe precisar. Toda noite a sôfrega procura obstinada,
crua.

Nilson Galvão
publicado em BLAG- http://nilsonpedro.wordpress.com/

Etiquetas: ,

08/03/11

Glorianna - Hymne a la Femme - Vangelis



Não podia mesmo deixar de partilhar este vídeo que recebi de uma amiga no FB
http://www.youtube.com/watch?v=QIAgmHKUeJU

Etiquetas:

No Dia Internacional da Mulher



Neste Dia, que celebra a luta das operárias de Chicago, é para estas mulheres que vão, sobretudo, os meus pensamentos.E a sua voz neste poema de um poeta afegão:

Desolação
Nas linhas das palmas das tuas mãos
foi escrito o destino do sol
Nasce,ergue a tua mão -
a longa noite está a sufocar-me.
Partaw Naderi
Cabul,Junho 1994

Etiquetas:

07/03/11

DE AMICITIA - 105

ler"

amigos de longa data do dia que não acaba

quero os amigos que tenho na cabeça
os que tenho em mente nunca conhecer pessoalmente

e não vão ter defeitos os meus amigos de nunca
mais

os meus amigos são Simão que vende seguros e por isso
usa óculos só para os poder partir

são Jaime que tem um snack-bar que dá prejuízo

são Abu que é indiano e que está na minha cabeça só
para provar que sou multicultural e tirando isso
o Abu cala-se o Abu canha-se

e são eles aqueles que eu gostava de levar para a cova
para os apresentar à Nossa Senhora

e são eles aqueles com quem jogo cartas sem me
preocupar com a morada certa

e desabafo com eles como quem tem falta de ar
e converso com eles nos intervalos das discussões
que o resto do tempo fica para discutir quem é mais
meu amigo
amigo meu mais
meu mais amigo

e fazem concursos para ver quem me lava melhor os
pés
quem me coça melhor as costas
quem me dá o abraço mais apertado e sexual sem
chegar ao ponto do desconforto de ter vontade de o
beijar

e tenho tantas saudades deles
inventei as saudades que lhes tinha e pedi que chorassem
muito

e eles choraram o dobro de muito que é para cima de
um lago onde vamos nadar os quatro

o choro deles quando se juntam é do tamanho
da água de que precisa o veleiro de onde partimos à
aventura

e ao partir a aventura dividi-a pelos três
e agora estão ciumentos porque não dá conta certa
e disputam a amizade como um jovem lobo que aprende
a caçar

e eu dou-me todo por não ter a quem mais dar
e converso-lhes as palavras todas porque eles não
existem

e digo-me os elogios todos porque eles não me podem
ver

e canto-me as canções mais doces porque voz não
sabeis
não sabesnão estás cá
não estão cá
antes estivessem
se cá estivessem era melhor
não estando tenho de me contentar com os homens e
mulheres que estão ao meu lado e que eu não inventei

e cada vez tenho mais saudades deles
procuro alguém parecido mas não encontro

e quando encontro não gosto porque me apaixono pelas
pessoas que são o contrário do que a minha imaginação
prefere

e o Jaime o Simão e o Abu levaram a mal e foram
passar férias para a
cabeça de outra pessoa e nem um
recado deixaram

e se calhar não voltam
e se calhar não quero
e a cabeça já não tem inquilinos
e os que há estão à minha volta
mesmo à minha volta
mesmo de verdade
com caras que não me são familiares e personalidades
defeituosas que eu julgo como quem beija

a cabeça levo-a leve mas o coração bate mais forte
mais pesado
pudera tem gente lá dentro


João Negreiros In "Luto Lento",
Ed. Projecto Literatura em Movimento

Etiquetas:

06/03/11

anunciando o carnaval - em domingo, dito «gordo»

05/03/11


encontrado no FB, em entrada de uma das minhas amigas.

Tristeza, por favor vai embora /Minha alma que chora/Está vendo o meu fim /Fez do meu coração a sua moradia/Já é demais o meu penar/Quero voltar àquela vida de alegria/Quero de novo cantar//

Composição: Niltinho Tristeza / Haroldo Lobo
Pode ser visto/ouvido na interpretação de Maysa em http://letras.terra.com.br/maysa/126025/

Etiquetas:

DE AMICITIA -104

Photobucket

Os grandes amigos

São como as árvores
de grande porte.
Quando elas partem
as raízes ficam
aquém da morte

Luís Veiga Leitão
Rosto por Dentro, Edições Afrontamento

Etiquetas: ,

04/03/11

OS MEUS POETAS - 208

autores

Concerto de Bach


De manhã nunca dormi muito tempo;
os eléctricos acordavam-me
tal como os meus próprios versos.
Arrancando-me da cama pelos cabelos,
eles arrastavam-me até à cadeira
e obrigavam-me a escrever
assim que tinha acabado de esfregar os olhos.

Religado por uma doce saliva
aos lábios de um instante singular,
eu não pensava de maneira nenhuma
na salvação da minha alma miserável;
mais do que um eterno bem estar,
desejava um breve momento
de prazer efémero.

Levantavam-me em vão os sinos do solo;
eu aderia-lhe com os meus dentes, as minhas unhas.
Ele estava cheio de perfumes
e de segredos provocantes.
Quando, de noite, eu olhava o céu,
não era o céu que procurava.
ssustava-me muito mais com os buracos negros
escancarados algures no fundo do cosmos
e ainda mais assustadores
que o próprio inferno.

Mas eu pude escutar os sons do cravo.
Era um concerto
de Johan Sebastian Bach
para oboé, cravo e instrumentos de cordas.
De onde provinha? Ignoro-o.
Mas não era do solo.
Ainda que então não tivesse bebido vinho
eu cambaleava ligeiramente
e tive de me prender com grampos
à minha própria sombra.

Jaroslav Seifert

(Versão de Luís Parrado, a partir da tradução francesa de Petr Král, incluída em Anthologie de la Poésie Tchèque Contemporaine: 1945-2000, Gallimard, Paris, 2002)
In http://arspoetica-lp.blogspot.com/

Etiquetas:

03/03/11

ARTE - 7



Arte portuguesa - Vasco Fernandes/Grão Vasco (s.XVI) - adoração.
De notar a 1ªrepresentação de um índio na arte portuguesa e, creio, europeia.

Etiquetas:

02/03/11

PENSAR - 122

flores

[o elogio da inutilidade]

Porque é que o inútil é importante?
Sei os riscos que corro ao propor um tema como este: o elogio da inutilidade. Por um lado, estamos claramente perante um termo ambíguo. A inutilidade parece à primeira vista um valor negativo ou um contravalor. Quando é que a inutilidade é boa e libertadora? Por outro lado, a nossa cultura, que idolatra a produção e o consumo, assumiu o útil como um dos critérios máximos para avaliar as nossas vidas. Se é útil, é bom. Quando nos sabemos úteis, sentimo-nos compensados. A vida tornou-se uma espécie de grande maratona da utilidade. Contudo, o termómetro que assinala a nossa vitalidade interior não pode dispensar a pergunta pelo lugar que saudavelmente damos ao inútil.

Porque é que o inútil é importante? Porque o inútil subtrai-nos à ditadura das finalidades que acabam por ser desviantes em relação a um viver autêntico. Condicionados por esta finalidade, e aquela, e aquela acabamos simplesmente por não viver, por perder o sentido da gratuidade, a disponibilidade para o espanto e para a fruição. Recorrendo a uma expressão do teólogo Dietrich Bonhoeffer, a inutilidade é que nos dá o acesso à “polifonia da vida”, na sua variedade, nos seus contrastes, e na sua realidade escondida e densa. E a polifonia da vida outra coisa não é que a sua inteireza, tantas vezes sacrificada à prevalência contínua do que nos é vendido por útil.
(...)

José Tolentino Mendonça
In Página 1
20.02.11

(agradeço à amiga que me deu a conhecer este texto)

Etiquetas:

01/03/11

TANGO



Inga Savitskaya (Inga Sawicka) - Moskwa 2004
http://www.youtube.com/watch?v=rnGBTpVFCtM&feature=fvw

Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons