02/08/11

POETAS MEUS AMIGOS - 152

natureza;árvores

Julho

No céu, nenhuma sombra. É o solque volta a ser maciço.
Cintila e fere os olhos, embotando-os
e embotando a imagem
que para si cada homem construiu.



As árvores já mortas
e ipês de cores já plenas pontuam
uma única avenida.
Ainda sobeja o que resta do dia
e o calor é silêncio.

Trabalho que não cessa, caminhões
que toldam o ar de negro,
o almoço gorduroso feito às pressas
e pesado o torpor.
Não há corpo que não queira dormir.

Raivosa e crua luz meridiana
e o seu coração sujo.
O céu é torvelinho. Lancina a tarde.
Um vento carmesim
torna ásperos suor e epiderme.

Se os dias são poemas
são poemas que integram alfarrábios
que toda a gente leu
sem saber que leu – elegia vinda
dos pianos da infância.

E se os dias são poemas, os versos
ardem como esta luz
trêmula e sôfrega que corta o ar
e que ateia fogo às asas dos pássaros.
Cinzas que toda a gente
respira como se não respirasse.

Daniel Francoy
http://oceuvazio.blogspot.com
Nota:O Daniel Francoy publicou, nas edições Artefacto, Lisboa, em 2010, Em cidade Estranha-Retrato de Mulheres

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