30/10/11

OS MEUS POETAS - 228




[da Elegia-Écloga silenciosa-poema II]

Conhecerás o meu riso,
a súplica fixa
como uma ferida nos milênios
e com a alba em cada manhã.
Hei de conhecer a lenta germinação:
como hás de abrir e saciar
os brandos acontecimentos.
Drogas inócuas, tormentas de março;
hortos de lírios e cera, sinecuras
para a mente e as mãos débeis de alergia;
leituras sobre a poeira dos verões,
leituras sob a chuva, entre as infinitas espinhas da chuva.
Às vezes, Urania, a verdade
é como um fruto armado que se abrirá:
o céu máximo,
voos que a noite
do solstício reanima,
gema de remotíssimo
hidrogênio, ódio e amor,
a fadiga ardente:
abandonada aqui, na água do planeta,
com perfis de libélulas e lírios verdes.
Talvez erga para ti os olhos,
a boca onde a espera
alterou o dizer, o existir.
E amanhã, na terra,
tornar-se-ão ardores estelares
os vestígios derradeiros,
as esperanças convulsas e efémeras.
Teremos distâncias inversas,
espelhos hão de oferecer imagens roubadas,
flores fugindo dos muros para te amar.
Seremos apenas um afã, um só esquecimento.

Andrea Zanotto
trad.deJorge Henrique Bastos


Etiquetas:

Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com Licença Creative Commons