20/11/11

LEITURAS - 176


Crónica de uma morte anunciada
«No dia em que iam matá-lo, Santiago Na­sar levantou-se às 5.30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonha­do que atravessava uma mata de figueiras­-bravas, onde caía uma chuva miúda. e branda, e por instantes foi feliz no sono, mas ao acor­dar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros.
" Sonhava sempre com árvores", disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando 27 anos de­pois os pormenores daquela segunda-feira ingrata. "Na semana anterior tinha sonhado que ia sozinho num avião" de papel de estanho que voava sem tropeçar por entre as amendoeiras,- disse-me. Tinha uma reputação bastante bem ganha de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que lhos contassem em jejum, mas não descobrira qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho, nem nos restantes.»
Gabriel Garcia Marquez
Primeira página de Crónica de uma morte anunciada, 1988

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