16/04/12

ESCREVER - 112

[traduzir é...]

troca de rosa
-na definição de Antonio Machado retomada para título de um livro de traduções de Eugénio de Andrade-

O gosto do livro despertou em mim o apetite de traduzi-lo. Nunca fui amante de traduções: por falta de habilitação e de paciência. É esse ofício de traduzir, alguma coisa como a navegação por mares nevoentos, em que você tanto pode salvar-se como topar com um recife, a proa de outro barco, o peixe-fantasma, a mina flutuante e o raio. Às vezes imaginamos que estamos traduzindo e estamos simplesmente falsificando: culpa da cerração no mar de línguas, senão da própria irredutibilidade do texto literário.(...) Traduzi com grandes pausas, como se deve beber cachaça, e se não estou satisfeito com o meu trabalho, confesso que dele tirei prazer.”

“As palavras não são apenas símbolos de coisas, são também coisas elas próprias, com a forma, a cor, a densidade, o peso, a essência peculiar a cada qual. O tradutor tenta o milagre de encontrar, em duas línguas, palavras-coisas que se correspondam exatamente. Não há. Muitas aproximações, entretanto, são felizes: nesse caso, o tradutor do poema escreveu um novo poema. Louvemos, por isso mesmo, os tradutores. Dentro da condição terrestre das ilhas vocabulares, eles fazem o que podem.”

Carlos Drummond de Andrade 

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